Ser MecânicoSer Mecânico: junho 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A mão-de-obra


Tenho uma clientela, muito seleta e distinta. É toda uma relação de confiança construída ao longo de muitos anos com empenho e amor. Meus clientes sabem o que podem exigir de mim, e eu sei o que posso esperar de cada um deles.
Certa vez um tranzeunte, que não era meu cliente, veio aparentemente sem muita coisa pra fazer de melhor, me questionar sobre o preço da minha mão-de-obra. Eu, sem fazer muita questão, disse a ele que tinha meus motivos para formar meu preço, e se ele estivesse incomodado com isso, não faltavam opções a ele caso precisasse de algum serviço.
Crédito da Imagem: Affinia

Crédito da imagem: Dicas Network
Não sei se para me testar, mas uma semana depois veio o mesmo dito cujo, com seu carro, solicitando meus préstimos. Dizia ele que o veículo não tinha força, rateava e bebia muito. Tratava-se de um modelo carburado, e ao diagnosticar expliquei que tratava-se do carburador desregulado e sujo. Indignado, o figurinha me disse que que não podia ser pois já havia "mexido" no carburador. Mesmo já sem paciência, resolvi pegar o serviço mesmo assim.
Limpei o carburador e troquei o reparo. Os calibres estavem todos fora de lugar e os tubos misturadores estavam montados errados, e algumas mangueiras de depressão em lugares totalmete equivocados.
Feito o serviço, o motor girava redondinho... Lenta, progressão etc. O consumo voltou à normalidade, ou seja, o problema foi sanado. Ao dizer o preço do serviço o cara quase teve um tréco. Cobrei dele na época R$250,00.
De forma bem grosseira ele alegou o seguinte: "Pô, mas o reparo desse carburador é dér-merréis!!!". Diante disso resolvi então apresentar por escrito o detalhamento do serviço. Coloquei na nota o seguinte: 


Peças de reparo do carburador .....................................................R$10,00 
Processo de descarbonização e limpeza do carburador ........... R$20,00
Mangueiras de depressão e conexões ..........................................R$20,00 
SABER O QUE ESTOU FAZENDO .......................................... R$200,00.


Só então o cavalheiro que até então questionava o preço da minha mão-de-obra, percebeu que o que eu cobro em minha mão-de-obra, não é a execução do serviço, e sim o CONHECIMENTO APLICADO para a execução do serviço.


Fica a dica: Se você é proprietário ou usuário de serviços automotivos, procure entender que o mecânico (os de verdade) são profissionais que vivem do conhecimento e isso deve ser valorizado sem questionamento. E se você é reparador, explique, deixe bem claro ao seu cliente que o que tem valor na mecânioca automotiva é o "saber". Peças e esforço físico são apenas uma etapa para a execução de um serviço bem prestado.

sábado, 11 de junho de 2011

"Médico também fica doente"


 Sou mecânico e tenho 31 anos. Dos quais 22 dedicado a oficina. É isso mesmo, entrei na oficina do meu pai com 9 anos de idade. Nesses anos ví muito, e ainda tenho muito a aprender. Uma vez quando eu e meu pai saímos para um socorro, o improvável aconteceu: acabou a gasolina de nosso carro. Um conhecido passou e falou: "Mas logo o carro de vocês... carro de mecânico não pode inguiçar!". Meu pai, muito astuto mesmo sem muito estudo, disse: "Mas médico também fica doente uai!".
Crédito da Imagem: SARAN'CAR
Hoje, mais de 10 anos após esse ocorrido me vi na mesma situação, mas dessa vez não era o  combustível. Ao término de um socorro de rua  a um cliente meu, ao voltar para oficina,  passei por uma lombada violenta que existe aqui na minha cidade. Notei um barulho que vinha de baixo do carro nas retomadas de velocidade e nas trocas de marcha.
Crédito da Imagem: vag-tdi.blogspot.com
Tratava-se da Junta Homocinética. tinha quebrado a gaiola, mas não chegou a desmanchar oconjunto, por isso ainda estava rodando. Mas quando tracionava, fazia o barulho incômodo. Foi trocar e o barulho sumiu.Ao levantar o carro na oficina, vasculhei toda suspensão. Nada encontrado. Foi quando meu pai me deu a dica: "Uai, isso é homocinética... Eu hein!". E de fato, quando examinei o movimento individual era isso mesmo.
O diagnóstico pode ser feito da seguinte maneira: Levanta-se o vaículo de um só lado, a fim de deixar uma das rodas no chão. Engata-se uma marcha (qualquer uma), tenta-se girar a roda suspensa, a qual vai resistir pelo veículo estar engrenado, nesse momento de resistência pode-se notar folgas excessivas, ruídos etc. É importante também girar o volante todo para um lado e todo para o outro e girar a roda dando várias voltas nela, com o carro desengrenado para verificar se o movimento homocinético não está comprometido ou ruidoso.
Trata-se de um Gol - 93/94, equipado com motor CHT. Existem veículos que possuem braço com trizeta, que em minha opinião é menos problemático. Homocinéticas têm uma gaiola onde são montadas esferas (bilhas) para fazer rolamento e o movimento oscilante so braço. E essa gaiola é muito fágil e não se dá muito com grandes esforços. Coifa rasgada é um forte indício de futuros problemas na homocinética, pela consequente perda da graxa que mantém a saúde do conjunto.

Fica a dica: Ruídos no tracionamento do veículo, podem ser da junta ou daponta homocinética. E é uma peça que não tem gatilho e pode deixar na mão. A manutenção preventiva trata da troca da coifa de proteção e do abastecimento com graxa grafitada.


domingo, 5 de junho de 2011

Ah sim... "CUÍCA"!


Credito da imagem: Misturas Heterogêneas

O sistema de frenagem é um sistema tão peculiar que existem profissionais e seções em oficinas que só cuidam disso, talvez pela importância ou pela complexidade.
Não foram poucas as vezes em que eu surpreendi alguns de meus clientes ao dizer a eles que o problema era a "cuíca". Mas duas dessas vezes eu jamais esqueço. Um era músico, quando eu disse que o problema era a cuíca, ele disse que dava um jeito, porque ele era pagodeiro e cuíca não era problema pra ele. O outro era caçador e pescador, do tipo que gostava de contar um causo, e me disse que se o problema for a cuíca ele era especialista, já tinha caçado uma que pesava uns 10 kilos. Só depois que eu fuisaber que cuíca (animal) é um bicho do tamanho de um rato.
Crédito da Imagem: culturamix.com
O que muitos proprietários (consequentemente clientes de oficina) não sabem é que o bom funcionamento do sistema de frenagem está diretamente ligado ao funcionamento do motor também. Isso porque existe uma peça chamada de Servo Freio, que antigamente era chamada de "cuíca". Essa peça é responsável por aproveitar a energia gerada pelo vácuo do motor para utilizá-la no acionamento do pedal do freio. É dela a responsabilidade por deixar o pedal do freio macio.
Pelo fato de ela utilizar o vácuo do motor através de uma mangueira ligada ao coletor de admissão para seu funcionamento, qualquer furo ou defeito em sua vedação pode provocar uma entrada falsa de ar no motor, levando a um mal funcionamento.
Crédito da Imagem: Quebarato
O sintoma mais comum para o diagnóstico é o pedal de freio, ele fica duro, pesado. O cliente reclama "O pedal tá duro e o carro não freia direito", ou o motor funciona mal ou apaga ao pisar no freio. Em alguns modelos a luz da injeção acende, devido ao erro de leitura do sensor de oxigênio. Alguns modelos carburados, o motor perde potência de maneira significativa.
Existe uma válvula na mangueira que faz essa conexão que tem a função de manter o servo sempre no vácuo, e ela também pode dar defeito, mascarando o diagnóstico. É preciso atenção. Não existe tempo determinado para manuteção periódica do servo, e sua manutenção é pelo seu funcionamento mesmo e não existe reparo. Deu defeito a solução é trocar.

Dica: Se o veículo estiver consumindo muito e não for encontrado nenhum problema no motor, atente para o pedal de freio, se estiver duro e demorando para frear, o problema pode ser da "cuíca"